Página:A morgadinha dos canaviais.djvu/501

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As senhoras seguiram-n’o alli.

O homem que Angelo vira de longe, divisava-se ainda por entre os silvados de um atalho, que vinha dar á avenida da entrada do Mosteiro.

— Parece o Domingos, o criado do Tapadas... — disse o conselheiro, affirmando-se.

— Mas que pressa elle traz! — notou D. Victoria.

— Já nos viu — disse Angelo.

— Lá acenou com o chapéo — exclamaram todos.

— Que quer elle dizer com aquelles signaes? — tornou o conselheiro, nervoso.

— Querem vêr que é o que eu digo! Olhe que venceu, mano.

— Qual! É impossivel. Pois eu não sei como a votação correu? É boa! — disse o conselheiro com certo tom irritado, como de quem não quer que lhe descubram uma esperança.

Passou-se um pouco de tempo, em que o homem se perdeu de vista. Subia n’aquelle momento a ladeira dos sovereiros.

Os olhos fitavam-se todos no portão do pateo á espera de o vêr surgir alli. Mal se respirava.

— Eil-o — disseram instinctivamente todas as vozes, quando elle appareceu.

— Viva! sr. conselheiro, viva! — bradou elle de lá, apesar de esfalfado.

O conselheiro teve quasi uma vertigem.

— Elle que diz?... Como pode...

Não o deixaram continuar as senhoras, que já o beijavam e abraçavam com frenetico enthusiasmo.

Magdalena, a propria Magdalena, cujos mais ardentes votos eram vêr o pae desistir da vida politica, deixava-se tomar pela febre do triumpho e celebrava-o como se n’elle fundasse a sua felicidade. É que, na occasião da lucta, não ha animo tão indifferente a estimulos, que não abrace um partido; ao principio frouxamente talvez, mas a incerteza augmenta o ardor com que se esposa a causa; os