eram cartas de Magdalena. E depois, que mal poderia vir da indiscreção? Não tinha elle um coração que não devia abrir-se mais a ninguem? Encerrar alli qualquer segredo era encerral-o quasi em um tumulo.
E que segredos podiam ser os de Magdalena e Vicente?
De que se poderia tratar alli, a não ser de algum affectuoso cumprimento da morgadinha ao velho, que sempre tratára com intima familiaridade, ou algumas meigas reprehensões por a sua porfiada ausencia do Mosteiro?
Augusto recordava-se até do velho lhe ter falado na indole d’estas cartas.
Nas vesperas de renunciar para sempre á felicidade, devia-se perdoar a tentação.
Abriu-as.
Não ia muito adeantado na leitura, quando já todos os signaes de hesitação cediam o logar aos da mais irreprimivel avidez. E terminada a primeira, abriu, leu ou devorou outra, e após outra e outra, até a ultima; da ultima voltava de novo á primeira, e cada vez mais profunda commoção parecia dominal-o.
Transcreveremos algumas d’aquellas cartas, para o leitor julgar de todas.
Dizia uma:
«Meu bom amigo. — Hontem, depois que nos separámos, recebi de Lisboa a encommenda que esperava. O Angelo não se esqueceu. Mando-lh’a, para que mais uma vez faça de feiticeiro, adivinhando os gostos do seu amigo.
«Afianço-lhe que vae acertar com os desejos d’elle. Ha tempos que o vejo, emquanto espera na sala por os pequenos, procurar de preferencia na estante os livros de historia franceza. Custa-me a perdoar-lhe os attractivos que tem para elle a Revolução, mas emfim seja feita a sua vontade. Escuso