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A QUINZENA
PROPRIEDADE DO CLUB LITTERARIO




FORTALEZA, 30 DE JANEIRO DE 1887.


SUMMARIO

Expediente. — A mulher cearenseAbel Garcia. — O bem-te-viBruno Jacy. — Origem da palavra CearáPaulino Nogueira. — Maria de BarrosJuvenal Galeno.­ — Milton e as phases de sua vidaDr. Guilherme Studart.



EXPEDIENTE

    1. Expediente ##

Aos nossos collegas da imprensa da provincia damos aqui testemunho do reconhecimento em que ficamos para com todos, pela fidalga gentileza com que acolheram o pri­meiro numero d′A quinzena.

Guardamos como um estimulo as expressões altamente lisongeiras que nos consagraram e procurarernos corresponder á franca sympathia e honrosa confiança com que nos distinguiram.


Aos numerosissimos cavalheiros que de boa vontade

dignaram-se vir em nosso auxilio, inscrevendo-se subscri­ptores deste periodico, somos igualmente agradecido.


Pedimos desculpa a alguns dos nossos distinctos collaboradores

aos quaes ainda nesta edição não podemos sa­tisfazer, dando publicidade aos seus trabalhos, alguns de subido valor.

Entre outros artigos retirados por falta de espaço fica a secção — Os Quinze dias.


A Quinzena sahe ainda nesta 2. edição com alguns defeitos

de forma que iremos corrigindo, como já o fizemos em relação a algumas faltas do 1.º n.º

Brevemente contamos poder publcar materia muito mais abundante para o que já foi provideaciado.


A QUINZENA publica-se duas vezes por mez.
Assignaturas
Capital
Trimestre 
 2$000
Semestre 
 4$000
Anno 
 8$000
Interior e Provincias
Semestre 
 5$000
Anno 
 10$000
Administração
Rua do Major Facundo, 56

A mulher cearense
I

Neste breve ensaio sobre o espirito da mulher cearense, expomos apenas o que se nos afigura sufficiente para a elucidação do assumpto e póde ajustar-se à capacidade de um artigo de revista.

E’ uma parca contribuição para o estudo da psychologia e do modus vivendi social da mulher ’nesta porção da patria brazileira. Dar-lhe-hemos mais amplo desenvolvimento, accumulando maior material de observacões proprias e pesquizas directas, em trabalho posterior, de que a presente exposição é simplesmente um escorço.

Embora as affirmações que vamos avançar, parecam um prurido de innovacões, aos esptritos amollecidos pela doçura da inactividade, que deliciam-se afogados no nirvana da indifferenca e estão sempre prestes a aguçar a ponta do estyleto do desdem contra os portadores de quaesquer verdades, vêm ellas a publico escudadas com o prestigio da sciencia e a força de ideias bem accentuadas.

A critica historica dos acontecimentos humanos ’nesta provincia, explicando a sua marcha e as condições de meio em que se produziram, e a observação no actual momento evidenciam a diffrença que ha entre o caracter cearense e a indole dos demais habitantes do paiz. Facilmente se reconhecerá isto com fundamento verdadeiramente scientifico si attender-se à infinita variedade de agentes ou influencias locaes, que têm aqui actuado sobre a vida humana.

Si é certo que as acções do homem são sem­pre influenciadas pelo meio que habita, por seu organismo e por suas aptidões adquiridas hereditariamente, convem explanar o processo pelo qual o typo physico e moral do cearense chegou a differenciar-se das feições caracteristicas dos brazileiros em geral.

No Ceará o homem é activo, arrojado e impressionavel. As fatalidades do meio deram-lhe às formas da vida a mais forte organisação. Educado na luta, energico pela necessidade, tem mais de uma vez attestado brilhantemente o sentimento profundo de sua força.

Não basta-lhe a placidez da família, a vida intima: ha em sua alma uma aspiração mais vigorosa, um apuro de sensibilidade que toca muita vez às raias da febre em que um nada mesmo o lança. Necessite a communhão cearense defender-se da implacabilidade dos elementos naturaes conjurados contra ella ou, cedendo ao movimento da civilisação, ao impulso de novos sentimentos, procure apagar os derradeiros traços de uma instituição antipathica à sua indole democratica como a escravaria, elle mostra-se abnegado até o sacrificio. O enthusiasmo vibra em seu ser com a sonoridade do crystal. Então é apaixonado, tempestuoso, deixa-se conduzir nos võos da imaginação vivaz e in-