ANNO I | REDACÇÃO: João Lopes, A. Martins, Abel Garcia,
J. de Barcelos, J. Olympio |
N.º 2 |
SUMMARIO Expediente. — A mulher cearense — Abel Garcia. — O bem-te-vi — Bruno Jacy. — Origem da palavra Ceará — Paulino Nogueira. — Maria de Barros — Juvenal Galeno. — Milton e as phases de sua vida — Dr. Guilherme Studart. EXPEDIENTE
Aos nossos collegas da imprensa da provincia damos aqui testemunho do reconhecimento em que ficamos para com todos, pela fidalga gentileza com que acolheram o primeiro numero d′A quinzena. Guardamos como um estimulo as expressões altamente lisongeiras que nos consagraram e procurarernos corresponder á franca sympathia e honrosa confiança com que nos distinguiram. Aos numerosissimos cavalheiros que de boa vontade dignaram-se vir em nosso auxilio, inscrevendo-se subscriptores deste periodico, somos igualmente agradecido. Pedimos desculpa a alguns dos nossos distinctos collaboradores aos quaes ainda nesta edição não podemos satisfazer, dando publicidade aos seus trabalhos, alguns de subido valor. Entre outros artigos retirados por falta de espaço fica a secção — Os Quinze dias. A Quinzena sahe ainda nesta 2. edição com alguns defeitos de forma que iremos corrigindo, como já o fizemos em relação a algumas faltas do 1.º n.º Brevemente contamos poder publcar materia muito mais abundante para o que já foi provideaciado. A QUINZENA publica-se duas vezes por mez. Assignaturas
Capital
Trimestre 2$000 Semestre 4$000 Anno 8$000 Interior e Provincias
Semestre 5$000 Anno 10$000 Administração
Rua do Major Facundo, 56
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A mulher cearense
I
Neste breve ensaio sobre o espirito da mulher cearense, expomos apenas o que se nos afigura sufficiente para a elucidação do assumpto e póde ajustar-se à capacidade de um artigo de revista. E’ uma parca contribuição para o estudo da psychologia e do modus vivendi social da mulher ’nesta porção da patria brazileira. Dar-lhe-hemos mais amplo desenvolvimento, accumulando maior material de observacões proprias e pesquizas directas, em trabalho posterior, de que a presente exposição é simplesmente um escorço. Embora as affirmações que vamos avançar, parecam um prurido de innovacões, aos esptritos amollecidos pela doçura da inactividade, que deliciam-se afogados no nirvana da indifferenca e estão sempre prestes a aguçar a ponta do estyleto do desdem contra os portadores de quaesquer verdades, vêm ellas a publico escudadas com o prestigio da sciencia e a força de ideias bem accentuadas. A critica historica dos acontecimentos humanos ’nesta provincia, explicando a sua marcha e as condições de meio em que se produziram, e a observação no actual momento evidenciam a diffrença que ha entre o caracter cearense e a indole dos demais habitantes do paiz. Facilmente se reconhecerá isto com fundamento verdadeiramente scientifico si attender-se à infinita variedade de agentes ou influencias locaes, que têm aqui actuado sobre a vida humana. Si é certo que as acções do homem são sempre influenciadas pelo meio que habita, por seu organismo e por suas aptidões adquiridas hereditariamente, convem explanar o processo pelo qual o typo physico e moral do cearense chegou a differenciar-se das feições caracteristicas dos brazileiros em geral. No Ceará o homem é activo, arrojado e impressionavel. As fatalidades do meio deram-lhe às formas da vida a mais forte organisação. Educado na luta, energico pela necessidade, tem mais de uma vez attestado brilhantemente o sentimento profundo de sua força. Não basta-lhe a placidez da família, a vida intima: ha em sua alma uma aspiração mais vigorosa, um apuro de sensibilidade que toca muita vez às raias da febre em que um nada mesmo o lança. Necessite a communhão cearense defender-se da implacabilidade dos elementos naturaes conjurados contra ella ou, cedendo ao movimento da civilisação, ao impulso de novos sentimentos, procure apagar os derradeiros traços de uma instituição antipathica à sua indole democratica como a escravaria, elle mostra-se abnegado até o sacrificio. O enthusiasmo vibra em seu ser com a sonoridade do crystal. Então é apaixonado, tempestuoso, deixa-se conduzir nos võos da imaginação vivaz e in- |