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Nunt. Antiquus, Belo Horizonte, v. 16, n. 1, p. 221-270, 2020

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estativo de (w)apû, 'tornar-se visível', 'aparecer'; no modo Š, 'fazer manifesto', 'manifestar-se', 'produzir', 'criar'); b) eles ainda não tinham sido nomeados (zukkurū, estativo D de zakāru, nomear) com um nome (šūma), uma declaração pleonástica que insiste na coalescência entre existência e nomeação, conforme o que se encontrava já nos dois primeiros versos do poema; c) mais uma declaração pleonástica, eles ainda não tinham, literalmente, 'destinado destinos' (šīmātu lā šīmī), com uso de objeto direto interno, já que šīmātu/šīmtu (o que está fixado', 'testamento', 'destino') deriva de šiamu/šâmu ('fixar', 'decretar') — considerando os usos dos dois termos no restante do poema, optei por traduzir šīmātu šīamu sempre por 'decretar (um) destino', em que algo do efeito sonoro se preserva.


Verso 9: "Engendraram" traduz ibbanû, pretérito N de banû, verbo cujos sentidos são: a) 'criar', 'edificar"; falando de deuses, 'criar' pessoas, grãos etc.; 'fazer' uma estatueta etc.; 'construir' uma casa, uma embarcação; em matemática, 'construir'; por extensão de sentido, 'moldar' uma forma; 'erguer' uma cidade; b) falando de pessoas, 'gerar' um filho. Conforme Lambert, "o [verbo] acádio abrange duas ideias bem distintas que têm diferentes equivalentes sumérios", a saber: "uma é banû = dû, 'fazer', ou, mais especificamente, construir', enquanto banû = (u)tu alude a parentesco" (Lambert, 1998, p. 192).

O mesmo Lambert, em sua edição do Enūma Eliš, afirma que

não há termo babilônico específico para a criação pelos deuses, como bārā´ no hebraico bíblico, mas usa-se uma variedade de termos e circunlocuções, alguns dos quais aparecem nesses versos [v. 1-12]. O verbo banû é o mais explícito e é usado aqui nos versos 9 e 12 para indicar o processo positivo que se descreve. Ele pode ser relacionado com binu, 'filho' [...], pelo lado semítico, mas os equivalentes sumérios para banû e bunnû (si, si4, sig7, mú etc.) falam a favor de um sentido intransitivo, e 'germinar'