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A VIAGEM MARAVILHOSA

A luz seccava o espaço, exaltado de calor sem a clemência da humidade. O menor ruido estalava no silencio complexo. No jardim da sua casa, no morro da Gloria, Thereza agitava-se a cada vibração sonora. Os aromas em liberdade a invadiam e a faziam estremecer. Deu uma risada, que sacudiu o ar e a espantou, quando sentiu uma onda mais forte de cheiro de jasmim, que lhe tivesse vindo no próprio som. Oh! seu jasmim romântico, meu velho jasmim lá das Laranjeiras! Oh! saudade 1 As minhas gavetas cheias de jasmim. Que sol damnado I Aqui na sombra uma delicia, a pasmaceira quotidiana. Esta é a minha bahia de cada dia... o pão nosso de Thereza. Nas Laranjeiras era o Corcovado nas minhas costas. Aqui a água me barrando os olhos. Prisioneira eterna. Esmagamento infinito. Mas eu fui livre, quando pequenina, na grande chácara, no meio dos bichos, que eram os companheiros, cada qual mais idiota. Deixaram-me a impressão de estupidez permanente. Sempre fazendo a mesma cousa, como o meu marido. Lá vae um barco a vela, medroso como meu marido, e lá ao longe um vapor insolente, como alguém que ainda não encontrei. Para onde vão? Capaz de ir para bem perto, para Santos, mas eu desejaria que fossem para a Islândia. Muito longe, muito gelo, differente de tudo isto. E eu não fui á Europa I Incrível! toda a gente vae e volta e eu sempre pregada aqui. Quando eu A viagem maravilhosa

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