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por não achar no vocábulo humano outra linguagem que melhor a exprima.

O arrulhar destes dois corações virgens durava até oito horas da noite, quando uma senhora de certa idade chegava a uma das janelas da casa, já então iluminada, e, debruçando-se um pouco, dizia com a voz doce e afável.

— Olha o sereno, Carolina!

A estas palavras os dois amantes se erguiam, atravessavam o pequeno espaço que os separava da casa e subiam os degraus da porta, onde eram recebidos pela senhora que os esperava.

— Boa noite, D. Maria, dizia o moço.

— Boa noite, sr. Jorge; como passou? respondia a boa senhora.

A sala da casinha era simples e pequena, mas muito elegante; tudo nela respirava esse aspecto alegre e faceiro que se ri com a vista.

Aí nessa sala passavam as três pessoas de que lhe falei um desses serões de família, íntimos e tranqüilos, como já não os há talvez nessa bela cidade do Rio de Janeiro, invadida pelos usos e costumes estrangeiros.

Os dois moços sentavam-se ao piano; as mãozinhas distraídas da menina roçavam apenas pelo teclado, fazendo soar uns ligeiros arpejos que serviam de acompanhamento a uma conversação em meia voz.

D. Maria, sentada à mesa do meio da sala, jogava a paciência; e quando levantava a vista das cartas, era para olhar a furto os dois moços e sorrir-se de satisfeita e feliz.

Isto durava até à hora do chá; e pouco depois Jorge retirava-se, beijando a mão da boa senhora, que neste