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ainda na sua virgindade primitiva, dormira todo o tempo em que a vida parecia ter-se concentrado nos sentidos e só despertou quando, fatigado pelos excessos do prazer, gasto pelas emoções repetidas de uma existência desregrada, o moço sentiu o tédio e o aborrecimento, que é a última fase dessa embriaguez do espírito.

Tudo que até então lhe parecera cor-de-rosa tornou-se insípido e monótono, todas essas mulheres que cortejara, todas essas loucuras que o excitaram, todo esse luxo que o fascinara, causavam-lhe repugnância; faltava-lhe um quer que seja, sentiu um vácuo imenso; ele, que antes não podia viver senão em sociedade e no bulício do mundo, procurava a solidão. Uma circunstância bem simples modificou a sua existência.

Levantou-se um dia depois de uma noite de insônia, em que todas as recordações de sua vida desregrada, todas as imagens das mulheres que o haviam seduzido per passaram como fantasmas pela sua imaginação, atirando-lhe um sorriso de zombaria e de escárnio.

Abriu a janela para aspirar o ar puro e fresco da manhã, que vinha rompendo.

Daí a pouco o sino da igrejinha da Glória começou a repicar alegremente; esse toque argentino, essa voz prazenteira do sino, causou-lhe uma impressão agradável.

Vieram-lhe tentações de ir à missa.

A manhã estava lindíssima, o céu azul e o sol brilhante; quando não fosse por espírito de religiosidade excitava-o a idéia de um belo passeio a um dos lugares mais pitorescos da cidade.