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desculpe-me esta distração; volto ao que sou — simples e fiel narrador de uma pequena história.

Em amor, dois meses depressa se passam; os dias são momentos agradáveis e as horas flores que os amantes desfolham sorrindo.

Por fim chegou a véspera do casamento que se devia fazer simplesmente em casa, na presença de um ou dois amigos; o moço, fatigado dos prazeres ruidosos, fazia agora de sua felicidade um mistério.

Nenhum dos seus conhecidos sabia de seus projetos; ocultava o seu tesouro, com medo que lho roubassem; escondia a flor do sentimento que tinha dentro d'alma, receando que o bafejo do mundo onde vivera a viesse crestar.

A noite passou-se simplesmente como as outras; apenas notava-se em D. Maria uma atividade que não lhe era habitual. A boa senhora, que exigira como condição que seus dois filhos ficassem morando com ela para alegrarem a sua solidão e a sua viuvez, temia que alguma coisa faltasse à festa simples e íntima que devia ter lugar no dia seguinte.

De vez em quando erguia-se e ia ver se tudo estava em ordem, se não havia esquecido alguma coisa; e parecia-lhe que voltava aos primeiros anos da sua infância, repassando na memória esse dia, que uma mulher não esquece nunca.

Nele se passa o maior acontecimento de sua vida; ou realiza-se um sonho de ventura, ou murcha para sempre uma esperança querida que se guarda no fundo do coração; pode ser o dia da felicidade ou da desgraça, mas é sempre uma data notável no livro da vida.