mas um dia lhe provarei o contrário e lhe mostrarei que mereço a sua estima.
— Esta promessa ma restitui toda. Mas que conta fazer?
— Não sei; a noite me há de inspirar. Liquidarei esse pouco que me resta...
— Esse pouco que lhe resta?
— Sim.
— Não me compreendeu então; disse-lhe que estava pobre; não lhe resta senão a miséria e...
— E... balbuciou o moço, pálido e com a alma suspensa aos lábios do velho, cuja voz tinha tomado uma entonação solene ao pronunciar aquele monossílabo.
— E as dívidas de seu pai, articulou o sr. Almeida no mesmo tom.
Jorge deixou-se cair sobre a cadeira com desânimo; este último golpe o prostrara; a sua energia não resistia.
O velho cuja intenção real era impossível de adivinhar, porque às vezes tornava-se benévolo como um amigo e outras severo como um juiz, encarou-o por algum tempo com uma dureza de olhar inexprimível:
— Assim, disse ele, eis um filho que herdou um nome sem mancha e uma fortuna de duzentos contos de réis; e que, depois de ter lançado ao pó das ruas as gotas de suor da fronte de seu pai amassadas durante trinta anos, atira ao desprezo, ao escárnio e à irrisão pública esse nome sagrado, esse nome que toda a praça do Rio de Janeiro respeitava como o símbolo da honradez. Diga-me que título merece este filho?
— O de um miserável e de um infame, disse Jorge, levantando a cabeça: eu o sou! Mas a memória de meu pai, que eu venero, não pode ser manchada pelos atos de um mau filho.