Página:A viuvinha. Cinco minutos.pdf/30

Wikisource, a biblioteca livre

— O senhor bem mostra que não é negociante.

— Não é preciso ser negociante para compreender o que é a honra e a probidade, sr. Almeida.

— Mas é preciso ser negociante para compreender até que ponto obriga a honra e a probidade de um negociante. Seu pai devia; em vez de saldar essas obrigações com a riqueza que lhe deixou, consumiu-a em prazeres; no dia em que o nome daquele que sempre fez honra à sua firma for declarado falido, a sua memória está desonrada.

— O senhor é severo demais, sr. Almeida.

— Oh! não discutamos; penso desta maneira; não sou rico, mas procurarei salvar o nome de meu amigo da desonra que seu filho lançou sobre ele.

— E o que me tocará a mim então?

— Ao senhor, disse o velho, erguendo-se, fica-lhe a miséria, a vergonha, o remorso, e, talvez mais tarde, o arrependimento.

A angústia e o desespero que se pintavam nas feições de Jorge tocavam quase à alucinação e ao desvario; às vezes era como uma atonia que lhe paralisava a circulação, outras tinha ímpetos de fechar os olhos e atirar a matéria contra a matéria, para ver se neste embate a dor física, a anulação do espírito, moderavam o profundo sofrimento que torturava sua alma.

Por fim uma idéia sinistra passou-lhe pela mente e agarrou-se a ela como um náufrago a um destroço de seu navio; o desespero tem dessas coincidências; um pensamento louco é às vezes um bálsamo consolador, que, se não cura, adormece o padecimento.

O moço ficou de todo calmo; mas era essa calma