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Um sorriso, ou antes um enlevo, frisava os lábios entreabertos; os olhos fixos na porta vendavam-se às vezes com os seus longos cílios de seda, que, cerrando-se, davam uma expressão ainda mais lânguida ao seu rosto.

Foi em um desses momentos que Jorge entreabriu a porta e olhou: nunca vira a sua noiva tão bela, tão cheia de encanto e de sedução.

E entretanto ele, seu marido, seu amante, que ela esperava, ele, que tinha a felicidade ali, junto de si, sorriu amargamente como se lhe houvessem enterrado um punhal no coração.

Abriu a porta e entrou.

A moça teve um leve sobressalto; e, dando com os olhos no seu amante, ergueu-se um pouco sobre a conversadeira, tanto quanto bastou para tomar-lhe as mãos e engolfar-se nos seus olhares.

Que muda e santa linguagem não falavam essas duas almas, embebendo-se uma na outra! Que delícia e que felicidade não havia nessa mútua transmissão de vida entre dois corções que palpitavam um pelo outro!

Assim ficaram tempo esquecido; ambos viviam uma mesma vida, que se comunicava pelo fluido do olhar e pelo contato das mãos; pouco a pouco as suas cabeças se aproximaram, os seus hálitos se confundiram, os lábios iam tocar-se.

Jorge afastou-se de repente, como se sentisse sobre a sua boca um ferro em brasa; desprendeu as mãos e sentou-se pálido e lívido como um morto.

A menina não reparou na palidez de seu marido; toda entregue ao amor, não tinha outro pensamento, outra idéia.

Deixou cair a cabeça sobre o ombro de Jorge; e, sentindo as palpitações do seu coração sobre o seio,