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tantas vítimas arrancadas às suas famílias e aos seus amigos.

Essa epidemia moral, que se agravava todos os dias, começava já a inquietar alguns espíritos refletidos, alguns homens pensadores, que viam com tristeza os progressos do mal.

Procurava-se debalde a causa daquela aberração fatal da natureza e não era possível explicá-la.

Não tínhamos, como a Inglaterra, esse manto de chumbo, que pesa sobre a cabeça dos filhos da Grã-Bretanha; esse lençol de névoa e de vapores, que os envolve como uma mortalha.

Não tínhamos, como a Alemanha, o idealismo vago e fantástico, excitado pelas tradições da média idade e, modernamente, pelo romance de Goethe, que tão poderosa influência exerceu nas imaginações jovens. Ao contrário, o nosso céu, sempre azul, sorria àqueles que o contemplavam; a natureza brasileira, cheia de vigor e de seiva, cantava a todo o momento um hino sublime à vida e ao prazer.

O gênio brasileiro, vivo e alegre no meio dos vastos horizontes que o cercam, sente-se tão livre, tão grande, que não precisa elevar-se a essas regiões ideais em que se perde o espírito alemão.

Nada enfim explicava o fenômeno moral que se dava então na população desta corte; mas todos o sentiam e alguns se impressionavam seriamente.

Era fácil, pois, naquela época, adivinhar o motivo que levava Jorge às quatro horas da manhã ao lugar onde se abriam os largos alicerces do grande hospital de Santa Luzia.

O moço afastou-se da praia e desapareceu, por detrás