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Um observador ou um homem prático, o que vale a mesma coisa, reconheceria nele à primeira vista um desses virtuose do comércio, como então havia muitos nesta boa cidade do Rio de Janeiro.

A classificação é nova e precisa uma explicação.

A lei, a sociedade e a polícia estão no mau costume de exigir que cada homem tenha uma profissão; donde provém esta exigência absurda não sei eu, mas o fato é que ela existe, contra a opinião de muita gente.

Ora, não é uma coisa tão fácil, como se supõe, o ter uma profissão. Apesar do novo progresso econômico da divisão do trabalho, que multiplicou infinitamente as indústrias e, por conseguinte, as profissões, a questão ainda é bem difícil de resolver para aqueles que não querem trabalhar.

Ter uma profissão quando se trabalha, isto é simples e natural, mas ter uma profissão honesta e decente sem trabalhar, eis o sonho dourado de muita gente, eis o problema de Arquimedes para certos homens que seguem a religião do “dolce far niente”.

O problema se resolveu simplesmente.

Há uma profissão, cujo nome é tão vago, tão genérico, que pode abranger tudo. Falo da profissão de negociante.

Quando um moço não quer abraçar alguma profissão trabalhosa, diz-se negociante, isto é, ocupado em tratar dos seus negócios.

Um maço de papéis na algibeira, meia hora de estação na Praça do Comércio, ar atarefado, são as condições do ofício.

Mediante estas condições o nosso homem é tido e havido como negociante; pode passear pela rua do Ouvidor, apresentar-se nos salões e nos teatros.