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haveres em loucuras e desvarios. Era um filho da riqueza, que, tendo esbanjado a sua fortuna, comprava, com sacrifício do seu bem-estar, o direito de poder realizar uma promessa sagrada.

Se era avareza, pois, era a avareza sublime da honra e da probidade; era a abnegação nobre do presente para remir a culpa do passado. Haverá moralista, ainda o mais severo, que condene semelhante avareza? Haverá homem de coração, que não admire essa punição imposta pela consciência ao corpo rebelde e aos instintos materiais que arrastam ao vício?

Terminadas as suas notas, esse homem, que acabava de guardar uma soma avultada, que naquele mesmo dia tinha ganho 6:000$000 líqüidos, abriu uma gaveta, tirou quatro moedas de cobre, meteu-as no bolso do colete e dispôs-se a sair.

Aquelas quatro moedas de cobre eram um segredo da expiação corajosa, da miséria voluntária a que se condenara um moço que sentia a sede do gozo e tinha ao alcance da mão com que satisfazer por um mês, talvez por um ano, todos os caprichos de sua imaginação.

Aquelas quatro moedas de cobre eram o preço do seu jantar; eram a taxa fixa e invariável da sua segunda refeição diária; eram a esmola que a sua razão atirava ao corpo para satisfação da necessidade indeclinável da alimentação.

Os ricos e mesmo os abastados vão admirar-se, por certo, de que um homem pudesse jantar no Rio de Janeiro, naquele tempo, com 160r., ainda quando esse homem fosse um escravo ou um mendigo. Mas eles ignoram talvez, como a senhora, minha prima, a