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existência dessas tascas negras que se encontram em algumas ruas da cidade, e principalmente nos bairros da Prainha e Misericórdia.

Nojenta caricatura dos hotéis e das antigas estalagens, essas locandas descobriram o meio de preparar e vender comida pelo preço ínfimo que pode pagar a classe baixa.

Quando Carlos chegou ao Rio de Janeiro, uma das coisas de que primeiro tratou de informar-se, foi do modo de subsistir o mais barato possível. Perguntou ao preto de ganho que conduzira os seus trastes, quanto pagava para jantar. O preto dispendia 80$. O moço decidiu que não excederia do dobro. Era o mais que lhe permitia a diferença do homem livre ao escravo.

Talvez ache a coragem desse moço inverossímil, minha prima. É possível. Compreende-se e admira-se o valor do soldado; mas esse heroísmo inglório, esse martírio obscuro, parece exceder as forças do homem. Mas eu não escrevo um romance, conto-lhe uma história. A verdade dispensa a verossimilhança. Acompanhemos Carlos, que desce a escada íngreme do sobrado e ganha a rua em busca da tasca onde costuma jantar. Passando diante de uma porta, um mendigo cego dirigiu-lhe essa cantilena fanhosa que se ouve à noite no saguão e vizinhança dos teatros. O moço examinou o mendigo e, reconhecendo que era realmente cego e incapaz de trabalhar, tirou do bolso uma das moedas de cobre e entrou em uma venda para trocá-la.

O caixeiro da taverna sorriu-se com desdém desse homem que trocava uma moeda de 40$., e atirou-lhe com arrogância o troco sobre o balcão. O pobre, reconhecendo