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que a esmola era de um vintém, guardou a sua ladainha de agradecimentos para uma caridade mais generosa.

Entretanto, o caixeiro ignorava que aquela mão que agora trocava uma moeda de cobre para dar uma esmola, já atirara loucamente pela janela montões de ouro e de bilhetes do tesouro. O pobre não sabia que essa ridícula quantia que recebia era uma parte do jantar daquele que a dava e que nesse dia talvez o mendigo tivesse melhor refeição do que o homem a quem pedira a esmola.

O moço recebeu a afronta do caixeiro e a ingratidão do pobre com resignação evangélica e continuou o seu caminho. Seguiu por um desses becos escuros que da rua da Misericórdia se dirigem para as bandas do mar, cortando um dédalo de ruelas e travessas.

No meio desse beco via-se uma casa com uma janela muito larga e uma porta muito estreita.

A vidraça inferior estava pintada de uma cor que outrora fora branca e que se tornara amarelada. A vidraça superior servia de tabuleta. Liam-se em grossas letras, por baixo de um borrão de tinta informe e com pretensões a representar uma ave, estas palavras : "Ao Garnizé".

O moço lançou um olhar à direita e à esquerda sobre os passantes e, vendo que ninguém se ocupava com ele, entrou furtivamente na tasca.