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Carlos recuou insensivelmente da porta e, querendo esconder do velho negociante o seu nobre sacrifício fez um esforço e balbuciou uma mentira:

— Passava... por acaso... Vou ao largo do Moura...

O sr. Almeida fitou os seus olhos pequenos, mas vivos, no rosto do moço, que não pôde deixar de corar; e, apertando-lhe a mão com uma expressão significativa, disse-lhe :

— Sei tudo!

— Como? perguntou Carlos, admirado ao último ponto. — É aqui que costuma jantar. E por isso adivinho qual tem sido a sua existência, durante estes cinco anos. Impôs-se a si mesmo o castigo da sua antiga prodigalidade; puniu o luxo de outrora com a miséria de hoje. É nobre, mas é exagerado.

— Não, senhor; é justo. O que possuo atualmente, o que adquiro com o meu trabalho, não me pertence; é um depósito, que Deus me confia, e que deve servir não só para pagar as dívidas de meu pai, como também a dívida sagrada que contraí para com uma moça inocente. Gastar esse dinheiro seria roubar, sr. Almeida.

— Bem; não argumentemos sobre isto; não se discute um generoso sacrifício: admira-se. Venha jantar comigo.

— Não posso, respondeu o moço.

— Por quê?

— Não aceito um favor que não posso retribuir.

— Quem faz o favor é aquele que aceita e não o que oferece. Demais, eu pobre, nunca me envergonhei de sentar-me à mesa de seu pai rico, acrescentou o velho com severidade.

— Desculpe!

O velho tomou o braço de Carlos e dirigiu-se com ele