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— Pode acender o seu charuto, não faça cerimônia.

— Já não fumo, respondeu Carlos simplesmente.

— O senhor já não é o mesmo homem. Não come, não bebe, não fuma; parece um velho da minha idade. — Há uma coisa que envelhece mais do que a idade, sr. Almeida: é a desgraça. E além disto o senhor tem razão; não sou, nem posso ser o mesmo homem; já morri uma vez, acrescentou em voz baixa.

— Mas há de ressuscitar.

— É essa a esperança que me alimenta.

— E como vai esse negócio? perguntou o velho com interesse.

— Tem-me custado recolher as letras de meu pai; já paguei 60:000$, e amanhã devo pagar 5:000$; seis letras que me faltam não sei onde se acham. Se eu pudesse anunciar... Mas, na minha posição, receio comprometer-me.

— Pensou bem. Porém só restam por pagar essas seis letras?

— Unicamente.

— Quer saber então onde elas estão?

— É o maior favor que me pode fazer.

— Com uma condição.

— Qual?

— Que há de ouvir-me como se fosse seu pai quem lhe falasse, disse o velho, estendendo a mão.

Por toda a resposta o moço apertou, com efusão e reconhecimento, a mão leal do honrado negociante.

— Essas seis letras, disse o sr. Almeida, estão em meu poder.

— Ah!