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Um instante, enquanto o moço meditava, com os olhos no mostrador do seu relógio, o sr. Almeida, receou que ele quisesse fazer do quarto da noiva um aposento mortuário; mas respirou, quando o viu saltar na rua.

Seguiu-o e, pela direção, adivinhou o desenlace da cena de que fora espectador; preparou-se, pois, para representar também o seu papel; e por isso achava-se em face de Jorge no momento supremo em que a sua intervenção se tornara necessária.

O primeiro sentimento que se apoderou do moço, vendo o sr. Almeida, foi o do pejo; teve vergonha do que praticava e pareceu-lhe fraqueza aquilo que havia pouco julgava um ato de heroísmo.

Logo depois o despeito e o orgulho sufocaram esse bom impulso.

— Que veio fazer aqui? perguntou com arrogância.

— Evitar um crime, respondeu o velho com severidade.

— Enganou-se, disse Jorge secamente.

— Não me enganei, porque estou certo de que não há homem que depois de escutar a razão cometa semelhante loucura. Qual é o benefício que lhe pode dar a morte?

— Salvar-me da desonra.

— Uma desonra não lava outra desonra. O homem que atenta contra sua vida, é fraco e cobarde...

— Sr. Almeida!

— É cobarde, sim! Porque a verdadeira coragem não sucumbe com um revés; ao contrário luta e acaba por vencer. Matando-se, o senhor rouba os seus credores, porque lhes tira a última garantia que eles ainda possuem, a vida de um homem.