— E que vale esta vida?
— Vale o trabalho.
— E o sofrimento!
— É verdade; mas não temos direito de sacrificar a um pensamento egoísta aquilo que não nos pertence. Se a sua existência está condenada ao sofrimento, deve aceitar essa punição que Deus lhe impõe, e não revoltar-se contra ela.
Jorge abaixou a cabeça; não sabia o que responder àquela lógica inflexível.
— Escute, disse o velho depois de um momento de reflexão, o que teme o senhor dessa desonra que vai recair sobre a sua vida? Teme ver-se condenado a sofrer o desprezo do mundo, e sentir o escárnio e o insulto sem poder erguer a fronte e repeli-lo; teme, enfim, que a sua existência se torne um suplício de vergonha, de remorso e de humilhação! não é isto?
— Sim! balbuciou o moço.
— Pois não é preciso cometer um crime para livrar-se dessa tortura; morra para o mundo, morra para todos; porém viva para Deus, e para salvar a sua honra e expiar o seu passado.
— Que quer dizer? perguntou o moço admirado.
— Ali está o corpo de um infeliz; é um cadáver sem nome, sem sinais que digam o que ele foi; deite sobre ele uma carta, desapareça, e, daqui a uma hora, o senhor terá deixado de existir.
— E depois?
— Depois, como um desconhecido, como um estranho que entra no mundo, tendo a lição da experiência e a alma provada pela desgraça, procure remir as suas culpas.