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transpor o limiar desse aposento, sagrado para ele como um templo.

Justamente naquele momento, esse quadro se retraçava na memória da menina com uma força de reminiscência tal que fazia reviver o passado. O seu espírito, depois de saturar-se do amargo dessas recordações, desfiava rapidamente a teia de sua existência desde aquela época.

Quer saber naturalmente o segredo dessa vida, não é, minha prima?

Aqui o tem.

Nos primeiros dias que se seguiram à catástrofe, Carolina ficou sepultada nessa letargia da dor, espécie de idiotismo pungente, em que se sofre, mas sem consciência do sofrimento.

Maria e o sr. Almeida, que a desgraça tinha feito amigo dedicado da família, tentaram debalde arrancar a moça a esse torpor e sonolência moral. O golpe fora terrível; aquela alma inocente e virgem, bafejada pela felicidade, sentira tão forte comoção que perdera a sensibilidade.

O tempo dissipou esse letargo. A consciência acordou e mediu todo o alcance da perda irreparável. Sentiu então a dor em toda a sua plenitude e à profunda apatia sucedeu uma irritação violenta. O desespero penetrou muitas vezes e assolou esse coração jovem.

Mas a dor, a enfermidade da alma, como a febre, a enfermidade do corpo, quando não mata nos seus acessos, acalma-se. O sofrimento, em Carolina, depois de a ter torturado muito, passou do estado agudo ao estado crônico.

Vieram então as lágrimas, as tristes e longas meditações,