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mulher com todo o luxo das formas elegantes, com toda a pureza das linhas harmoniosas.

A influência que o vestido preto devia exercer sobre essa organização ardente revelou-se logo. O vestido preto era o símbolo de uma decepção cruel; era a cinza de seu primeiro amor; era uma relíquia sagrada que respeitaria sempre. Enquanto ele a cobrisse parecia-lhe que nenhuma afeição penetraria o seu coração e iria profanar o santo culto que votava à imagem de seu marido.

Era uma superstição; mas que alma não as tem quando a crença ainda não a abandonou de todo! Assim, Carolina tornou-se "coquette"; ouvia todos os protestos de amor, mas para zombar deles; o seu espirito se interessava nessa comédia inocente de sala; a sua malícia representava um papel engenhoso; mas o coração foi mudo espectador.

Era quando voltava do baile, à noite, na solidão do seu quarto, que o coração vivia ainda no passado, no meio das tristes recordações que despertavam quando o mundo dormia. Ali tudo lhe retraçava a noite fatal; só havia de mais o luto e de menos um vulto de homem, porque a sua imagem, ela a tinha nos olhos e n'alma. Dizem que não se pode brincar com o fogo sem queimar-se. O amor é um fogo também e Carolina, que brincava com ele, zombando dos seus protestos, acabou por crer.

Ela se tinha preparado para combater o amor brilhante, ruidoso, fascinador, dos salões; mas não se lembrou de que ele podia vir, modesto, obscuro e misterioso, enlear-se às cismas melancólicas de sua solidão.