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Esta parte da vida de Carolina é um romance.

Havia 18 meses que, um dia, sua vista, ao acordar, fitou-se na janela que a mucama acabava de abrir para despertá-la. Há um prazer indizível em embeberem-se os olhos na luz de que durante uma noite estiveram privados.

Carolina gozava desse prazer que nos faz parecer tudo novo e mais belo do que na véspera, quando descobriu entre o vidro da janela um papel dobrado como uma sobrecarta elegante. A curiosidade obrigou-a a erguer-se, levantar a vidraça e tirar o objeto que lhe despertara a atenção.

Era realmente uma sobrecarta, fechada com este endereço:

A ela.

Não creio que haja mulher no mundo que não abrisse aquela sobrecarta misteriosa. Carolina hesitou dez minutos, no que mostrou uma força de vontade admirável, porque outras no seu lugar a abririam no fim de dez segundos.

Não havia dentro nem carta, nem bilhete, nem uma frase, nem uma palavra; mas uma flor só, uma saudade.

Este pequeno acontecimento ocupou mais o espírito da moça do que os bailes, os teatros e os divertimentos que freqüentava. Pensou no enigma esse dia e os seguintes, porque todas as manhãs achava a mesma carta sem palavras e a mesma flor.

Quando isso tomou ares de uma perseguição amorosa, a moça revoltou-se e deixou de tirar as cartas, que ficaram no mesmo lugar onde as tinham posto. Parecia que o autor dessa correspondência ou não se importava com a indiferença que lhe mostrava Carolina ou contava vencê-la à força de constância.