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disse da porta o licenciado João Alves de Figueiredo já nosso conhecido.

— Pode entrar, senhor licenciado; boa-noite, Sebastião Ferreira! Que novidade há?

Ainda revolto pela cena da encapelação, o homem não esperou que voltasse o ouvidor a seu telônio, e foi desde a porta acompanhando-o com a sua queixa.

— Aqui me tem Vossa Mercê em sua presença para querelar do prelado e seus fâmulos que esta mesma tarde me perseguiram com voltas e assuadas, chegando sua malvadez a ponto de me maltratarem gravemente o corpo em diversas partes, como vossa mercê pode ver, sem o menor respeito, já não digo à minha pessoa, mas à justiça de El-Rei, nosso senhor, cuja sou oficial.

Falou neste jeito por meia hora o Sebastião Ferreira, contando os pormenores da afronta que sofrera e acabou apresentando ao Dr. Mustre sua querela em que requeria devassa na forma da Ordenação.

Adivinhou logo o ouvidor que o requerimento era obra do licenciado, e preparou-se para notar-lhe os lapsos ou descuidos, a fim de acachapar o velho advogado com a ciência que lhe dava o provimento