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Uma noite, seriam onze passadas, estava eu sentado no adro do convento. Fazia luar, porém o céu nublava-se; o ar era pesado, o mar sem ondulações arquejava como opresso; a chama fosforescente do relâmpago iluminava a fímbria das nuvens escuras. Uma grande tempestade estava iminente.

Enquanto a natureza preparava e dispunha a cena em que os elementos iam representar, estive embebido a contemplar os progressos da borrasca; mas quando a primeira gota, umedecendo as lajes, anunciou-me a chuva, imediatamente e como por encanto acalmou-se a sede ardente de poesia e mistério que me devorava.

Ergui-me, com ânimo de ganhar a casa sem demora.

Mas os joelhos dobraram-se, e um fio de gelo