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de quem o levara. A câmara onde trabalhava tinha uma só porta que ele tivera o cuidado de fechar à chave, e uma janela que dava para a cerca. Era por aí sem dúvida que entrara o larápio.

Correu ao peitoril, e só descobriu um gozo da cozinha, acocorado no quintal em frente dele, e a olhá-lo com focinho chocarreiro, como se estivesse aplaudindo o logro, que haviam pregado no nosso namorado, e mofando de sua figura estatelada.

Dando com os olhos no cão teve o rapaz um pressentimento cruel. O pergaminho, apesar do respanço e da imprimadura, no fim de contas não passava de couro de carneiro, e todo o cachorro tem sua queda para esse despojo animal, até mesmo quando o encontra no cisco em forma de sapato velho.

Convencido de ser o gozo quem surripiara o malfadado cupido, e talvez àquela hora o tinha no bucho, o Ivo, com o sangue a ferver-lhe, galgou de um pulo o batente da janela, e foi-se como um raio ao cão. Mas esse, que lhe pressentira o ímpeto, escafedeu-se. Perseguiu-o o pintor, bem resolvido a agarrá-lo e abrir-lhe o ventre para extrair a miniatura, de que ainda esperava aproveitar o