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— «Assim deve ser.

— «E quantas vezes não é!...

— «Não admira, o que não deve ser é o que mais acontece cá por este mundo.

— «É verdade...

— «O Visconde?

— «Deve ter sahido a cavallo, como costuma, antes de jantar. Talvez esteja na bibliotheca, ou tenha visitas... Não lho posso dizer ao certo. Só nos reunimos ao jantar, e para isso é ainda cedo — concluiu, olhando para o cinto onde, preso a uma agrafe d’oiro esmaltado, trazia um pequenino relogio de crystal.

— «Em Lisboa sei que é esse o costume, pelos muitos affazeres do Visconde, mas julguei que aqui lhe pertencesse mais, n’esta liberdade de férias no campo.

— «Não, para nós é já um habito. Depois, aqui tem a politica que o absorve e distrahe: ouvir um influente, attender a outro, escrever cartas e fazer combinações... Toda essa embrulhada, a que sou perfeitamente estranha.

— «Não se interessa então nada pela politica? — respondendo ao signal de negativa que ella fez com a cabeça, continuou — Imaginei que sim. Tenho-a tido sempre como um poderoso elemento na influencia partidaria do Visconde.

— «Porquê?

— «Porque a vejo sempre amavel para os influentes, conhecendo-lhes os fracos e os interesses...

— «Sómente para fazer a vontade ao Duarte, que é a unica coisa que me pede com interesse. Mas é contra minha vontade que elle se mette