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Nada mais proprio, em verdade, para uma villegiatura alegre, do que esse recanto de provincia, — valle ameno entre montanhas, com o rio cachoando ao fundo, deslisando mais adeante entre salgueiraes, como assustado da sua propria fúria.

Ha alli de tudo para deleite dos ociosos que no verão passeiam pelas provincias os tedios e as toilettes da moda.

Para os pic-nics, a sombra de velhas arvores em quintas senhoreaes; o rio, com as madrugadas de pescarias alegres; e lá para setembro a caça a rôdos pelos matagaes da serra; e para cúmulo as estradas bem conservadas pelo interesse que a gente da villa mostra em dar boa conta de si perante a civilisação dos pur-sangs e dos cocheiros inglezes.

Mas estamos no inverno, n’uma fria tarde de fins de janeiro. Ora o que se hade fazer no inverno n’uma terra de provincia, quando a neve cobre o cimo das serras e o vento corta as carnes como vergastadas? Procura-se então um bocado de sociedade para encurtar as noites sempre grandes para os preguiçosos e os paroleiros.

Vae-se para a botica, pois para onde se hade ir?...

Aquillo é o club, o centro onde tudo se reúne e as novidades se sabem e commentam, primeiro que em parte alguma.

Toda a gente tem entrado n’uma pharmacia e conhece mais ou menos o cheiro especial dos remedios, o feitio classico dos boiões das pomadas, os frascos bojudos com tampas de vidro e letreiros em grossas lettras sábias, os passaros