O ar energico e sereno do retratado era de tal maneira humano, que ninguem duvidaria que o pintor tirara do original essa figura, decidida a tudo, antes do que a abdicar. O calção branco e a casaca encarnada do cavalleiro, moço fidalgo e rico homem, destacava-se sangrentamente no fundo plumbeo da tela. Em pé, diante do quadro, o Visconde e a Candida conversavam, emquanto Antonio de Mello, filado pelo Braga, agora seu companheiro insacudivel por causa da sobrinha, e do visconde por causa da casa do Bernabé, estava no vão d’uma janella ouvindo pela millesima vez a pretensão do homensinho.
— «Quando em pequena aqui vinha — dizia entretanto a Candida — nada me interessava como este quadro.
— «Porquê? Não é, apezar de bem feito, uma obra prima que merecesse a attenção de V. Ex.ᵃ
— «Não é isso, que eu pouco conheço de pintura para o apreciar como artista, era a historia do cavalleiro que me fazia scismar!
— «É uma historia romanesca, na verdade, uma lenda d’amôr que não admira que tivesse fallado á imaginação d’uma formosa criança como V. Ex.ᵃ era.
— «Não é certo que foi amado por uma rainha aquelle cavalleiro?
— «É certo! Amado por uma rainha que desprezou para casar com a menina que amava desde a infancia.
— «E por isso foi desterrado para este palacio, não é verdade? O que lhe era elle, sr. Visconde?