Página:Ambições (Ana de Castro Osório, 1903).pdf/13

Wikisource, a biblioteca livre

empalhados entre o aquario com peixesinhos vermelhos e a balança na sua maquineta de mogno polido.

Em coisa alguma sahia dos antigos moldes consagrados a propriedade do sr. Domingos José da Silva, chamada a botica velha, para se distinguir da nova: envernizada de fresco, com mobilia de casquinha folheada em mogno, fabricado n’uma marcenaria do Porto.

Comtudo, a velha pharmacia rotineira e modesta não perdêra os freguezes antigos, como se não cançava de o apregoar o seu feliz dôno, que não soffria sem verdes olhares d’inveja o luxo sybarita do competidor.

Por largos annos fôra o unico pharmaceutico n’umas poucas de leguas em redor e gabava-se que não havia quem lhe levasse a palma na confecção d’umas certas pastilhas contra os vermes. Essa e a dos cães damnados eram muito suas e a ninguem as daria senão no ultimo arranco.

Mas um dia — questões de politica, infamias, invejas!... — eis que lhe surge pela prôa a nova pharmacia, com proprietario rapaz a modos litterato e suas vistas altas de quem tem um curso e faz os rótulos em latim.

Ia tendo uma apoplexia o sr. Domingos! A cada innovação que o seu rival trazia ás velhas costumeiras de botica provinciana, elle desabafava em murros no mostrador e furioso sorver de rapé.

Andou atrapalhado uns tempos. O filho aconselhava que mandasse dar uma pintadella ás portas, comprasse estantes e livros encadernados,