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fogo d’artificio, outros dormiam já, no costume das noites começadas logo ao pôr do sol.

Os pobre aleijados e esfarrapados, começavam aqui e alli a escancarar as suas miserias, supplicando em vozes ladainhentas cinco reisinhos para tamanha desgraça... De tempos a tempos, para entreter o povinho, um foguete de lagrimas enchia o céo d’estrellas multicôres e abria todas as boccas n’um prolongado oh! admirativo.

Bella ia subindo ao lado de João, divertindo-se em observar esse «vivo muzeu ethnographico,» como ella dizia.

Achava graça a tudo, e parava a cada passo para ouvir uma cantiga ou vêr um rancho de raparigas a dançar. Desde o primeiro degrau, que começára a dar dinheiro a todos os mendigos, a comprar bonecos de pão e bugigangas sem importancia, só pelo prazer de comprar, de ter muita coisa que lhe recordasse mais tarde aquelle espectaculo novo para os seus olhos de quasi extrangeira.

Por mais que João lhe dissesse que era muito lá em cima, no alto do monte, no terreiro da capella, que a verdadeira feira se juntava, ella não queria crer que fosse mais pittoresco.

A noite puzera-se escura e quente, com relampagos de calor para as bandas da Serra.

Á maneira que iam subindo, a multidão dos romeiros ia augmentando, apertando-se n’uma gritaria, n’um desmancho e rudesa que quasi a allucinava, a ella que nunca estivera tanto em contacto com o povo.

Insensivelmente tomou o braço que João desde