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— «Pois não se havia de consentir a consolação d’uma tão grande fé?

— «Fé?! Não diga isso. É ignorancia, fanatismo, loucura a d’estes desgraçados que nenhuma luz de razão illumina. É maldade da parte das leis e dos seus encarregados, deixar ao povo, que não tem liberdade para coisa alguma, liberdade para este horror... Subâmos depressa; ainda falta muito? O caminho parece-me hoje mais comprido...

— «É porque está aborrecida e cançada do barulho. Sentêmo-nos um bocadinho, quer?

— «Pois sentêmo-nos, mas alli mais no escuro, onde houver menos passagem, que sinto a cabeça esvaída.

Sentaram-se fóra da escada, sobre umas pedras, na sombra d’uma capella.

Ao lado d’elles e por toda a parte empurravam-se — fallavam, riam, apregoavam ou dormiam centenas de pessoas que assim se julgavam felizes, emquanto Isabella se sentia triste, — d’uma pungitiva tristeza que mais a encommodava por lhe vir assim, tão contra sua vontade e espectativa.

— «Estou arrependido de a ter acompanhado n’esta estravagancia, porque é uma verdadeira estravagancia, que devia prever a encommodaria deveras.

— «Porque? Estravagancia e desusada em mim, é isto. Pois que tenho eu de mais ou de menos para não sentir como elles, para não me divertir da mesma maneira, para me encommodar até o contacto d’esta bôa gente, que é portuguesa como eu, nascida sob o mesmo céo?!...