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e lá emquanto aos letreiros mandava-se ao mano, que estudava no seminario, que os escrevesse.

— Que não! — berrava o velho em vermelhas guinadas d’orgulho — que assim tinha vivido sempre e assim queria morrer; que levasse o diabo os modernismos!

N’estes sentimentos era appoiado pela mana Joaquina, resmungando sempre encatharroada contra as novidades e contra o rheumatismo que mal lhe deixava arrastar as pernas trôpegas.

Mas o caso é que a botica nova não lhe tirou freguezia, apezar dos fumos de sabichão do pharmaceutico, porque a boa gente da provincia gosta sempre de andar pelo seguro: — , diziam elles, temo-nos governado com o sô Domingos, e com as suas drogas nos iremos medicando; nada de venenos, que são os remedios novos!

E batiam familiarmente nas costas do velhote, que esfregava as mãos triumphante.

Passára-lhe já a maior furia, mas o rancor ficára latente e resmungão, como cachorro mal acostumado ao canil. Pessoa que, por acaso, ou propositadamente, entrasse na nova — como dizia com ironico despreso — era certo incorrer para sempre no desagrado geral da familia.

Mas, isto era ao accender dos candieiros de petroleo, — não chegou ainda a civilisação do gaz a todos os cantos de Portugal — por um fim de dia de frigido janeiro.

Lá fóra a escuridão fazia-se rapidamente, com um tremôr d’estrellas que annunciavam muita geada por essa noite fóra.

O sr. Domingos José da Silva, matriculado