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escancaradas que riam alvarmente e fallavam uma lingua que parecia desconhecida; tapava os ouvidos e a memoria reproduzia-lhe a mesma musica descompassada dos assobios e pequenos instrumentos rudimentares que enchiam o arraial, os pregões da agua fresca, a offerta persistente dos vendedores...

João arrastava-a, n’um atordoamento de inconsciencia, pela rua dos ourives, menos concorrida, e por onde lhes seria mais facil chegar junto da Viscondessa, que os esperava no terreiro da igreja em coreto reservado, expressamente feito para a occasião. Quando alli se viram, um suspiro d’alívio lhes alevantou o peito n’um tomar fôlego de quem atravessou a nado, e com perigo de vida, um rio caudaloso.

A Viscondessa fazia as honras do coreto com a mesma simples e nobre lhaneza — sem uma falsa amabilidade de burgueza que quer agradar, nem distracções prenunciadoras de pouca consideração — com que recebia na sua casa, á Lapa, tudo que Lisboa considera elegante e distincto.

Escutava, como se isso lhe fosse d’um grande interesse, o bisbilhotar das Sr.ᵃˢ Rebellos — muito importantes, com suas luvas d’algodão cinzento e vestidos côr de mel bordados a seda — que lhe desfiavam a historia de quantos lhes passavam ao alcance da vista.

Respondia ás perguntas impertinentes dos hospedes lisboetas, dispostos a troçar a provincia; conversava com o dr. Ramalho ou com o velho abbade, que ás romarias já não ia senão para estar de palanque, dizia.