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pharmaceutico no largo da Fonte, (como de si proprio dizia com grossa voz fanhosa e expedimentos de perdigotos por demais explicativos para quem lhe ficava em frente) estava nos seus momentos felizes.

Era á hora a que os parceiros do solo e da má lingua começavam a chegar, e toda a sua grossa pessoa rejubilava festiva.

Não que elle fosse positivamente um mau homem, que não era! Mas aquelle fraco por saber o que se passava na terra, fazia-o esperar pela noite como pelo melhor bocadinho da sua estupida vida, partilhada entre as tizanas, as descomposturas aos freguezes pobres, e o desvanecimento pela esperteza propria e a da familia.

Não era raro ouvir-lhe contar os adeantamentos e habilidades da sua prole, n’estes e n’outros discursos por igual demonstrativos.

— «O meu filho Antoino, cabalidade, cabalidade!... Deu os riscos p’ró chafariz novo. Ainda os pintava melhor, a cambra é que não quiz gastar dinheiro. Mas deixem-me ser vérador que o caso é oitro...»

Tinha ferrado no bestunto esse ideal supremo de labrego, que ao acaso de muito pontapé da sorte conseguira largar o cabo da enxada pela mão do almofariz.

Passeava, pois, o sr. Domingos José da Silva ao longo e largo da pharmacia, para melhor aquecer os pés mettidos em tamancos forrados; esfregava as mãos vermelhas e enfrieiradas vestidas de mitenes d’algodão verde salsa; tossia para o cache-nez enrolado ao pescoço, e esperava os