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parceiros emquanto o filho Antoino accendia as luzes e preparava as cartas para a partida.

N’uma das voltas do passeio, que o poz em frente da porta, deu de cara com a Engracia da Luz, a velha criada, quasi da familia, de casa dos Mellos.

Estacando deante d’aquella visita inesperada, onde farejou um principio d’intriga para o serão do padre cura e mais freguezes, perguntou solicito:

— «Que é lá isso, nhora Engracia? Está alguem doente lá por casa?! Parece que a vejo assim a modos assarapantada!...

— «Ai! deixe-me aqui Domingos. Eu vinha em busca do sr. dr. Ramalho. Disse o Zé Leandro que vira chegar umas malas grandes no carro da estação, que talvez fosse o senhor doutor... E vae eu vim em cata d’elle, porque a minha menina está muito mal, muito mal!... — puxando a ponta do avental, n’um arremesso á desgraça, limpou as lagrimas que lhe corriam em fio.

— «Olha que lanzudo aquelle! Essas malas que diz são do caixeiro das amostras, que até está em casa do Brito. O bruto não sabe cabriram as cambras e o dr. Ramalho é deputado? Que eu tamem, não sei o que alli anda!... Elle não pára cá em chegando o inverno... — piscava os olhos ao filho com ar de finura laponia, o que escancarava n’um regosijo a bocca do rapazola. Mas, reparando no ar desinteressado da Engracia que se voltava já para a porta, tornou:

— «Olhe cá, então o dr. Viegas, o doutor novo,