Página:Ambições (Ana de Castro Osório, 1903).pdf/160

Wikisource, a biblioteca livre

Como um raio de sol a alegrar uma enfermaria, as fogaças lá estavam tambem com as suas offertas de milho ou pão de ló em açafates armados em alta roca com flôres e laços enastrados. Nem todas formosas, mas alegres e sadias na graça hesitante do sahir da infancia, com seus vestidos brancos e os peitos cobertos de oiro, ellas representavam tambem um reconhecimento e uma crença, mas a sua offerta significava abundancia e vida; a sua crença ingenua transformava-as em oblata inconsciente ao culto da alegria e da mocidade.

Por fim os seus olhares cahiram sobre os homens de sorriso unctuoso, que recebiam as esmolas, e pensou com amargura na ingenuidade que a hypocrisia explora sempre...

N’esse momento todos se levantaram e sentaram, tossindo, escarrando, installando-se com a maior commodidade compativel com o espaço, para ouvir o sermão.

Depois d’alguns momentos de recolhimento, o conego Almeida ergueu-se no pulpito; alto, moreno, a bocca n’um risco de amavel sorriso, a face azulada de muito escanhoada, o olhar firme, de quem tem a certeza de possuir o auditorio.

Isabella olhou-o e logo recahiu no inconsciente scismar que a levava não sabia para onde, que a tornava tão estranhamente indifferente ao que se passava.

— «O amôr — dizia o conego com a sua voz propositadamente espaçada, para que as palavras se seguissem umas ás outras, n’uma ordem de formatura — é a base da vida. É o principio e o fim de todas as coisas...