Página:Ambições (Ana de Castro Osório, 1903).pdf/168

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forte, incapaz de gostar d’um homem a ponto de me parecer um martyrio incomportavel a memoria d’aquelle, que, apesar de tudo, foi um carinhoso pae!...

— «Isabella, imaginas que o João te accusaria das faltas de que não és, não podes sêr por fórma alguma, responsavel?...

— «É natural; por isso que é honesto, é que mais lhe deve repugnar a filha d’um...

— «Cala-te! Encommoda-me vêr-te assim. Não, o João não era capaz d’isso. Tenho mesmo a certeza que deve já ter havido alguma bôa alma que lhe dissesse não só a verdade, como a mentira... E vê lá se elle por isso te abandona um instante.

— «Talvez não saiba nada... Ninguem seria capaz d’essa infamia. Não é a mais negra das vilesas essa de contar a vida dos outros?... — um soluço fundo apertou-lhe na garganta a voz ansiada e terminou, quasi n’um tremulo de lagrimas: — Porque me não hão de deixar gosar esta dôce amisade espiritual que tanto me consola?... É tão bom, tão delicado, tão ao contrario dos outros, que o meu espirito, educado no despreso pelos homens, se depura e eleva na convivencia do d’elle.

— «Pois farás o que entenderes, com a condição de te não vêr triste e muito menos infeliz.

— «Cumprindo o meu dever não o poderei ser, não é verdade?

— «Se o dever nos desse felicidade!... Depois, o dever é tambem ser franco para quem estimamos...

Chegou n’esse momento o grupo em que vinha