Defronte assentava-se a Viscondessa e a muito espirituosa Viscondessinha de Pereira, sua hospede e amiga, casada com o mais condescendente dos maridos e não sabendo que mais mal dissesse do casamento — essa prisão celular para um espirito de mulher superior — dizia. O pobre rapaz, de um loiro deslavado e uns olhos de velha porcelana desmorecida pelo uso, olhava-a encantado com tanta graça e belleza e considerava o casamento a melhor das instituições.
Seguia-se o Ramalho, o dr. Pinto, a baroneza com a sua côrte de pretendentes, e ao fundo o Visconde junto da Candida, que enfeixava no seu côro de louvadores o Braga e os mais rapazes de fóra que a sua excepcional belleza attrahia.
— «Está doente, miss Bella? — perguntou João, cuidadoso, á sua visinha.
— «Não, porquê?
— «Ainda a não vi comer nada...
— «As deusas não comem mais do que petalas de rosa e bebem a doce ambrosia — respondeu do lado o Telles, com o seu ar pretencioso de janota e lyrico provinciano.
— «As do Olympo, pode ser... As que habitam este valle de lagrimas achariam pouco substancial — alimento tão poetico.
— «As senhoras vivem de poesia.
— «Já vejo que sou o escandalo do meu sexo, pois prefiro um sangrento bife á ingleza a uma grinalda poetica. Uso de um appetite nada ideal, como vê.
— «Mas hoje está-se desmentindo, miss Bella — censurou com bondade o João.