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— «Ha — respondeu muito sério o dr. Ramalho — é que V. Ex.ᵃ se esqueceu.

— «Como, então?

— «Il est précis...

— «C’est vrai, c’est vrai!... — continuou muito interessada a sua conversa em francês, não reparando no fungar sarcastico dos que tinham percebido a troça do medico.

— «Oh Visconde — chamou o d’Alvora com emphase — nós agora podiamos dizer como n’aquella historia dos Viscondes: Sêmos aqui tres Viscondes! É sêmos ou samos?...

— «É verdade, o terceiro era o mais prudente, que respondeu não saber. Temos bons colegas, não ha duvida... — respondeu o amphytrião rindo e deixando cahir sobre alguns dos convivas o seu olhar scintillante de ironia.

A festa prolongou-se pela tarde fóra sem esmorecimento de animação. Os ditos voavam de conviva para conviva, ás vezes do fundo para o principio da mesa, n’um esfusiar de alegrias despreoccupadas que contrastava rudemente com o luminoso e tranquillo cahir d’aquelle dia estival.

Ás gargalhadas e ás vozes juntava-se o tinir dos copos e dos talheres n’uma algazarra e sem cerimonia, para a qual os criados davam o seu contingente, correndo, fallando, pedindo coisas uns aos outros, n’um reboliço que unicamente lhes desculpavam n’aquelle caso excepcional.

Terminara o jantar, que já só era seguido pelos mais destemidos campeões do garfo e faca. Já d’aqui e d’alli rompiam effusivos os brindes que as pragmaticas baniram dos grandes jantares de ceremonia.