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dizia ter contrahido desde que perdera noites e dias a escrever o livro de edição esvaída, que dava a toda a gente: Verde mar... Para se divertir com o espanto do Telles tomava um ar masculinisado que não tivera nunca, apesar da sua livre educação feita ao lado do tio, errando pela Europa em busca da egualdade de clima, que, dizia elle, os medicos lhe recommendavam e só uma constante emigração pode fornecer aos super-civilisados que o requinte do luxo e da arte fizeram regressar ao nomadismo dos povos primitivos.

— «Pois eu, sou exactamente o contrario — continuava a rir — posso beber impassivelmente todos os excitantes porque os meus nervos, se é que os tenho, não se lembram de me encommodar. — Pegou na garrafa e continuou com ironica amabilidade. — Bebe, sr. Telles? Só hoje, para nos acompanhar...

— «V. Ex.ᵃ manda! Beberia até a cicuta que matou Socrates offerecida por tão delicadas mãos — respondeu desvanecido, apresentando o calice.

— «Não posso agradecer-lhe o desejo de fazer das minhas pobres mãos cumplices de tão nefando crime. Agora, sr. Telles, á minha saude, e a voltar — levou o copo á bocca e pousou o com naturalidade, vasio, sobre a mesa.

Quando olhou para o pharmaceutico e o viu torcer-se em caretas caricaturaes e apertar o estomago como quem se escaldou, partiu na mais sonora gargalhada que durante a festa se tinha dado.

João não poude deixar de sorrir das caretas