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— «E porque é que a sua voz treme como a minha, porque é que nos seus olhos as lagrimas querem rebentar, Bella?!...

— «É verdade, estou a chorar, mas porquê?!... — e tentava sorrir mas não conseguia dominar a tremura do seu pequenino queixo de uma pureza de linhas verdadeiramente infantil.

— «Porque me ama, Bella. Para que nega-lo? Porque me ama como eu a amo, com toda a minha alma, com todo o meu sangue, com a certeza de que o seu espirito e o meu se identificarão sem se absorverem, que seremos dois amigos para caminharmos juntos na jornada da vida...

Fallou por muito tempo, muito, tecendo sonhos, bordando phantasias, que ella ouvia enlevada, encostando a cabeça á mão que lhe deixava livre, numa passividade deliciada.

Calaram-se ambos, sem nada encontrarem que exprimisse a ternura immensa que transbordando da alma lhes enchia os olhos de lagrimas de ventura.

Elle, mais forte, conseguiu articular uma palavra que dizia o desejo ansiante do seu coração na sua mesma simplicidade — «Amo-a!...

Bella estremeceu toda, como se fosse emergindo n’um banho de caricias, e ciciou n’um halo de sonho: — «tambem eu o amo...

E de mãos enlaçadas, olhos nos olhos, sorriso com sorriso, assim ficaram completamente alheados do borborinho e esbanjamento de alegrias e egoismos que se degladiavam na arena do baile com brutalidades de feras em pleno circo romano...