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Mas feriam-no aquellas luctas traiçoeiras, magoavam-no muito mais do que as floreadas correspondencias do Telles para um jornal de Lisboa, em que tinha phrases de sapiencia e de effeito como aquella de citar Diogo Arias — o celebre valido de D. João de Castella que no mundo só desejava ter um prego com o qual podesse pregar a roda da fortuna — isto para insinuar que o Dr. era um malvado que não acudira ao Cabral para fazer mal á infeliz victima da politica, o Manuel Duarte, curtindo na enxovia a sua innocencia...

O Ramalho contava a Bella, que muito se indignava com tal meada de embustes, que o Manuel Duarte era o primeiro a rir-se d’elles porque dizia a quem o queria ouvir — que bem se ralava de que o mandassem para a Penitenciaria, pois já lá estivera dois annos e como tinha empenhos sahia á cidade e até trouxera dinheiro ganho a vender chapéos de sol. Que para tudo se queria sorte e o sr. Conselheiro o protegeria, porque eram o pae e os dois cunhados marchantes todos por elle na eleição dos quarenta.

— «Já vê, minha senhora — dizia-lhe n’uma tarde de quinta feira nos ultimos dias de setembro, na varanda do palacio dos viscondes — que não vale a pena explicar. Descobrem-se bem os grosseiros manejos do padre cura. Primeiro quiz requerer novo exame para que o Vilhegas dissesse que o caso não era perigoso; mas como o homem morreu, fui eu que o matei...

— «Oh, mas é indecente, uma lucta assim feita de mentiras!