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E não fôra, na verdade, das menos ferteis em acontecimentos sensacionaes, essa que originára o casamento do melhor herdeiro das redondesas com uma estrangeira: o que fazia, apesar das poucas esperanças que João déra sempre ás meninas casadeiras da terra, com que todas se julgassem offendidas.

Depois, o casamento, mais que imprevisto, do velho Braga com a formosa sobrinha de Antonio de Mello — que era o caso escandaloso por excellencia. Commentava-se o insolito luxo que o homem botára, elle que fôra sempre considerado o maior dos avarentos, o que enraivecia as raparigas e fazia dizer aos paes — «que bem o tinham previsto: o Braga seria o ideal dos maridos, babadinho pela mulher...» Ellas gritavam repugnancias que não sentiam, e os velhotes encolhiam os hombros: — «tolices de raparigas! Sabem lá o que custa a vida e o que uma mulher perde quando despresa um casamento rico!... Depois é que torcem a orelha. A Candida, sim, essa é que tivera juizo. Não ha como as mosquinhas mortas para se saberem governar.

Fallando com a segurança de quem não tivera o Braga como genro porque as meninas o não tinham querido, não pensando, na sua illusoria vaidade, que só uma invencivel e tresloucada paixão transformaria em prodigo amante o homem que, na sua já larga vida, não tivera mais desejos que não fosse os de accumular oiro, mais orgulho que o de juntar propriedade á propriedade, ambição que não fosse a da riquesa pelo prazer avaro de a possuir.