Página:Ambições (Ana de Castro Osório, 1903).pdf/242

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Bem sabe de que gente elle vem, que o pae nunca achou obstaculos ao seu querer...

— «Ora, mana! Não se faça echo desses boatos!... Dado mesmo que o pae fôsse, como dizem, companheiro do Braga pae no assalto á casa do Olival, que culpa tinha o filho?

— «Tinha culpa, tem culpa de ter aquelle sangue — que se fôsse só o roubo da casa do Olival!...

— «Pois sim, pois sim, não vamos agora esmiuçar a historia dos que Deus já lá tem e a quem já pediu contas... O rapaz até hoje não tem sido máu — leviano, doidito, verduras da mocidade... Até bem mudado está elle, nem já parece o mesmo que era!

— «Pois é o que me espanta, é o que me dá cuidado; a natureza d’uma pessoa mudar assim d’um dia para o outro, só por grande milagre, mano Antonio!... E os milagres vão tão raros, que até parece Nosso Senhor já os não querer fazer!

— «Ora Joanninha, desde que a mana tolhida se pôs só a lêr e a pensar, já me parece que de todo perdeu a confiança na humanidade; até ás vezes se me affigura que já descrê mesmo da Providencia divina!?...

— «Nem uma nem outra. Cada vez creio mais na humanidade, que bem guiada e educada não pode ser má. A Providencia nos acudirá n’este angustioso transe, em que tudo parece andar fóra do seu logar, em que os pobres, sem ninguem que os dirija para o bem, pensam na vingança tremenda que fere ás cegas bons e maus, culpados e innocentes. Mas tambem me