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era muita. Sabia talhar alguma coisa, se bem que nunca tivesse sido ensinada, e fazia flores e bordados muito especiaes em cascas e aparas...

Isabella teve um sorriso de amargurada censura a tão pouco prática educação e disse-lhe — que sim, que a utilisaria como ajudante de uma professora de córte que mandára procurar em Lisboa, e que, mais tarde, se essa senhora não quizesse ficar ou ensinasse outra qualquer coisa, a Aurora, em sabendo bem, tomaria o seu logar.

— Mas — lembrava-lhe ainda — precisava d’uma senhora que a auxiliasse no trabalho de escripturação e contas que taes emprehendimentos necessitam, um trabalho material que não requer grandes conhecimentos e sim escrupulosa meticulosidade e uma lettra rasoavel. Se quizesse, podia ficar já n’esse logar.

A Aurora córou e confessou, vexada, que escrevia muito mal e que de contas sabia pouco; piano é que tocava alguma coisinha, se fosse preciso ensinar...

— Não, — respondeu-lhe a outra tambem vexada porque, naturalmente bondosa, nunca fazia sentir a ninguem a sua inferioridade — piano não precisava, porque pretendiam educar para o trabalho e para a vida, e o piano, como qualquer outro instrumento ou arte, só se queria cultivado em pessoas de rarissima vocação e ensinado por professores bem habilitados, aliás era uma inutilidade. Mas experimentasse ella estudar um pouco de contas e português e depois com a prática faria o resto.

O abbade andava radiante: aquillo sim, aquillo