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sem embargo do fausto em que a Candida vivia.

Tambem esta se tornára a mulher da moda, em que todos fallavam, que as modistas vestiam como figurino, que os homens cortejavam, que as outras invejavam, procurando-a e convidando-a, não obstante, para todas as festas, porque seria uma falta de actualidade imperdoavel não mostrar entre as flores das grandes jarras da China, os espelhos de Veneza e os biombos laqueados, esse busto de mulher que se desnudava com orgulho e tinha soberbas attitudes de marmore antigo.

Sorria, sentia-se feliz, quasi bondosa á força de felicidade n’aquelle meio elegante e futil que correspondia a todas as aspirações do seu espirito. Se n’elle tivesse nascido, se não tivesse consumido a infancia no sonho ardente de todos os gosos que o dinheiro pode trazer a uma alma que de vaidades vive, não teria sido a mesma Candida que empurrara para a sepultura a que lhe fôra mais do que irmã.

Perversamente egoista e ambiciosa era tão culpada por isso como pela belleza fatal que a tornara uma força da natureza.

Filha do meio, herdeira d’um sangue que o alcool envenenara, adulada em vez de severamente orientada pela educação, era como bella e orgulhosa flor cujo pé mergulhado no pantano de morte e podridão nutre o encanto das suas petalas.

Desvanecida a anthipathia que a principio inspirara á Viscondessa, tornara-se á força de delicadezas e blandicias a sua amiga mais intima,