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o João sempre em cuidados, e parece que mais me estima ainda pelo que eu soffro.

— «Mas soffres muito, muito? Porque mo não dizias? É preciso consultar algum medico.

— «Para quê? D’aqui a cinco mezes todos os encommodos serão passados...

— «Como és corajosa, bravo! não sentes então nenhum receio?

— «Para fallar com franqueza, lembra-me ás vezes que posso morrer e isso faz-me passar um calafrio pela espinha. Não me importaria morrer se fôsse infeliz, mas sinto-me tão amada, que na verdade seria estupida a morte. Demais tendo tanto desejo de ter filhos, que já me ia tardando esta gravidez, que me deixou mais de um anno na espectativa... Nem eu queria dizer o desgosto que tinha para não torturar o João!... Mas agora estou socegada; anima-me o pensamento de que ha tantas mulheres que têm filhos sem perigo, que é impossivel que a mim me não aconteça o mesmo. Quando vejo os pastores trazerem á tarde para casa os cabritinhos e cordeiritos, que as mães tiveram no campo entregues a si mesmas, sem trabalhos nem perigos... penso que nós não devemos ser menos protegidas pela sabia natureza. É uma coisa tão natural esta!...

— «Pois é, e tu has de ser muito feliz, verás. Dizem os medicos que a vida sedentaria e a má educação physica da mulher é que trazem todos os perigos á mãe dos nossos dias.

— «É verdade. Todos os tratadistas o dizem.

— «Já vês; então não ha perigo para ti, que