Página:Ambições (Ana de Castro Osório, 1903).pdf/281

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— «É porque a conheces mal. A mim succedeu-me o mesmo, sentia até uma especie de repulsão.

— «Emfim... eu cá estou para a ver e modificar as minhas opiniões.

— «É verdade, ainda não te perguntei nada lá de casa. Josephina como está? Ainda muito queixosa da morte da filha?

— «Sempre o mesmo. Estimam-me muitissimo e eu como que preencho o grande vacuo que a infeliz deixou no coração de todos. Mas a casa está tão cheia d’ella que eu mesma me desespero com tal morte.

— «E não a conheceste! Era uma criança encantadora, tudo quanto possas imaginar de mais gracioso e intellectual. A morte d’um filho deve ser para enlouquecer!

— «E deve!... Só eu pensar que me pode morrer o meu filho, e mais ainda não vive senão dentro em mim, parece-me que endoideço!...

— «Bem, mas não se deve agora fallar em coisas tristes, faz-te mal. Teu tio, já o viste?

— «Não. Imagina onde estará por este bello tempo dos cães beberem de pé?

— «Aonde?

— «Em Cintra! já para lá telegraphamos. Sabes que vive agora no hotel, aborrecido de se ver só em casa, enfastiado de aturar criados. Mobilou tres quartos e lá está com o velho Dick.

— «Confessou-me o outro dia que está realmente aborrecido de viver só e muito resolvido a fazer-te a vontade indo para a provincia... Offereci-lhe a nossa casa, agora deshabitada e... já me pareceu mais longe d’isso.