Página:Ambições (Ana de Castro Osório, 1903).pdf/287

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Os homens na plateia voltavam as costas ao proscenio, passavam em revista as espectadoras, punham o monoculo e acariciavam o bigode, sorrindo, satisfeitos, do mundo e de suas pessoas. Outros discutiam politica, liam os jornaes da tarde, ou amodorravam-se nas cadeiras ao lado das esposas.

Como nessa tarde fôra a primeira toirada da época, que terminára sob uma forte batega de agua, espessa como fumo, que n’um abrir e fechar d’olhos evacuára a praça, contavam-se incidentes picarescos da volta sob a chuva violenta que não admittia chapéos e cegava os que na lucta por americanos e carros tinham ficado vencidos, tendo de esperar em qualquer abrigo de porta ou resolver-se a aguentar o peso d’agua caminho de suas casas. Discutia-se Guerrita, que não estivera nas suas melhores tardes de sorte; fallava-se na Duse, que alguns já tinham visto lá fóra, que outros ardiam por vêr, dispostos a acharem extraordinaria essa notabilidade que uma fama universal precedia — Messias de uma arte nova, toda feita de verdade flagrante, commovendo com lagrimas e alegrando com risos copiados da sua maneira de sentir a vida, gritos arrancados ás suas proprias dôres, gestos usados nas scenas reaes em que a superioridade intellectual da artista apreende e estuda no corpo da mulher que a materia despoticamente reivindica.

Sarah, a sacerdotisa — magna, amada sobre todas, vinha aos labios dos fanaticos como um desafio á tragica italiana. Os que as conheciam, a ambas, discutiam apaixonadamente, ora dando